sábado, 10 de abril de 2010

Sábado de memória

Eu tinha uns 14/15 anos e já era chato ao meu modo. Aliás chato é uma característica que pretendo não abrir mão. Por não saber não ser. Desconfio de pessoas efusivas e de que se emocionam com comercial de seguros e que são politicamente corretas.


Já tinha lido tudo do Bukowski. Adorava tudo o que saía da LP&M Editora. Pseudointelectualismo? De certa forma. Adolescente não tem opção ou tem um pseudointelectualismo ou é um idiota. E idiota só evolui para ser mais idiota. De Bukowski eu gostava das bebedeiras. Dos amores loucos. Era indulgente. Lia como quem devora uma revista em quadrinhos. E como sempre detestei super heróis , "lacaios do imperialismo yankee" como diria alguém sepultado pelo tempo e pelas ideologias. Ficção científica então, achava, como ainda acho chato demais. Assim, super herói pra mim eram personagens do Dashiel Hammet, Raymond Chandler, Chester Himes, Patrícia Highsmith e, é claro, Henry Chinaski - personagem beberrão de alguns livros de Bukowski.


Mas ao lado dos romances policiais, do Bukowski, dos primeiros porres, das primeiras brigas, das primeiras mulheres e de muito futebol, é óbvio, tinha muito rock and roll e poesia. Manuel Bandeira pela simplicidade, Guilherme de Almeida pela perfeição, Baudelaire por algo místico e sensual, Rimbaud e Verlaine pela erotização explícita, mas deixava o coração próximo de Jorge Lima numa brasilidade deliciosa e de Wladimir Maiakovski. E Maiakovski - que eu já vi o nome gravado de umas 8 formas, aqueles rompantes esquerdistas. Bem lido e crítico. E não oportunistas, pois meu niilismo sempre foi maior. Proudhon e Bakunin sempre fizeram minha cabeça muito mais que Marx. De Maiakovski algumas frases que sempre achei perfeitas:


"Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito,desconfio que haja falta de amor"

"Sem forma revolucionária não há arte revolucionária"


E a sua poesia que de tão popular, virou lugar comum, pop mas é perfeita, de frase de camiseta a cartão para namoradinha adolescente, quase um cala a boca e me beija de forma lírica:

"...Comigo

a anatomia ficou louca.

Sou todo coração - "

(Adultos-Maiakovski)


A trilha do post? Escolhi "Israël" da Siouxie and the Banshes.E para mostrar que não tenho preconceito com o Rock BR, Lobão.



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