sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Domingos

Procurando um material para uma apresentação, encontrei este texto perdido, escrito em algum domingo do ano passado. Com o direito de ser dispersivo neste momento, como fala um pouco de Pais e Filhos, achei oportuno postar.

Cheguei em casa com as pontas dos dedos ardendo. Vontade de escrever. Noite de domingo em Copacabana. Camisas de futebol. Clima de fim de festa. Cães e seus donos. O rosto das pessoas no domingo é indecifrável. Carrega ressaca. Culpa. Indulto. Paz. Cansaço. Alegria. Esperança e Frustação. Tudo ao mesmo tempo. Como se o domingo fosse uma espécie de dia trinta e um de dezembro de algum ano imaginário.


Vi um pai. Se despedia dos filhos. Rosto simples. Arredio a olhares. Ao deixar os filhos na portaria, a dor sem disfarce da lágrima contida. Não eram olhos de poeta. Ou me vendo naquele pai. Era um fato jornalístico. O pai, com a camisa do Vasco. Seu filho idem. A menina, uma mochila do Vasco. Nem sei se o Vasco jogou hoje. A família estava trajada de gala cruz maltina. E aquele pai, provavelmente , carregava o orgulho de passar, ou impor, seu time de futebol aos filhos.

Chamou atenção o gestual do menino. Enquanto o pai saía, sem olhar para trás, disfarçando a lágrima, o filho ficava ali. Olhando para um lugar vago. Olhando além de onde o pai caminhava. Como quem olha o futuro. Ele olhava para o vazio. Olhos nada incisivos. Talvez disfarçando de si mesmo o que ele queria ver, mas sabia que assim não seria, ver o pai olhando para trás. Parecia que ele entendia aquela dor do pai. E não olhava ali por ele mesmo, mas olhava ali pelo seu pai. Ele parecia querer confortar o pai. E o maior conforto seria torcer para o pai não se virar chorando. Mas, se assim fizesse, ele estava ali para proteger seu protetor. Talvez ali eu tenha visto alguma coisa minha. A vontade de um dia, no tempo perdido, ter o olhar daquele menino. Um olhar terno. Vi que a razão daquela cena ser forte para mim não era pelo pai. Mas pelo filho. Como pai já havia realizado meu domingo e minhas certezas.

Senti vontade de um dia ter tido vontade de ter aquele olhar de carinho do menino. Não voltamos no tempo. Não precisamos carregar culpas. Nada de terapia. Nem mesmo escrever em forma de terapia. Apenas vontade de em algum momento ter tido aquela força demonstrada na fragilidade e na fraqueza.

O que falta? Nada, apenas cheguei com uma vontade imensa de escrever. Não queria falar. Não queria ser ouvido. Não queria nem ouvir música. No máximo um chocolate.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembrando passado

-Guto, vou te apresentar uma amiga, ela chegou de Londres ontem, a Lucy.Os pais delas são Paqui.

Passa um tempo e Lucy vem ao nosso encontro, eu faço as introduções.

Você fala baixinho:

-derme

E eu gargalho disso até hoje.

Beijos,