sexta-feira, 29 de junho de 2007

Cariocas - Jorginho Guinle


Resolvi fazer uma homenagem a cariocas que são ilustres pela "carioquice". Nada melhor que iniciar com um que resume o Rio de Janeiro de uma época lúdica. E deixo um artigo meu publicado por ocasião de sua morte em 2004.




Reverência a um mito



Entra na agência um trabalho pesado. Um filme daqueles que a mensagem que
os clientes-sim ainda tem um elemento complicador, a aprovação não era apenas de uma empresa, mas sim de 3 entidades- e a mensagem que o cliente quer passar é tão grande, que eu na primeira reunião com a maior cara de pau, recomendei que para falar tudo o que ele queria a gente elaborasse ao invés de um roteiro de 30 segundos, criasse um documentário e exibisse na BBC ou no Globo Repórter. Claro que a piada encontrou a sisudez dos ternos marrons do outro lado.

Chegamos e pensamos muito. Teríamos que procurar a forma mais inteligente
que pudesse passar o recado árduo sem comprometer a qualidade criativa. Entre muitas idéias dignas de pasta, eis que surge uma que se encaixa perfeitamente. De cara quando me falaram, eu disse: " É essa. Matou. Vamos esquecer as outras".

O filme proposto era um depoimento de uma personalidade. Antes que alguém
diga que um depoimento é uma coisa simples e sem criatividade, eu explico: o filme tinha o objetivo de falar de uma etiqueta e de economia. O "boneco" para personificar este texto, o eterno Jorginho Guinle. Não preciso contar que o papo com nosso astro foi maravilhoso e interessante. Acabou virando uma tarde que falamos de coisas apaixonantes: mulheres bonitas, jazz e Copacabana. O filme ficou redondo, em 30 segundos um cara que entendia como ninguém de "etiqueta" e "como gastar" mandava o recado.

Na apresentação o cliente de terninho marron, falou que não poderia deixar
a empresa dele ter sua imagem associada a um derrotado. Eu cortei de sopetão antes que o imbecil falasse algo mais "Derrotado? Tu tá maluco? O cara saiu com a Marilyn Monroe, Ava Gardner, Lana Turner. Jayne Mansfield , Kim Novak, Rita Rayworth..." e continuei em seguida falando mal da empresa que ele representava, do pensamento obtuso e muito bem do nosso "ator". O cara não entendia a dimensão de um personagem, talvez um dos primeiros brasileiros globlizados, que além de tudo esbanjava charme e elegância.

Desdobramento óbvio, cliente medíocre e medroso não banca boas idéias. Os filmes não foram pro ar com ninguém. Recebi alguns toques que eu tinha sido "over" com o cara do terninho marron, que eu quase tinha espancado o cara. Mas, sinceramente, acho que fui leve. Um cidadão que deve ter tido seus momentos máximos numa viagem a Caxambu, bebendo um espumante barato de maçã e acompanhado de uma mulher desinteressante, não merecia consideração. E muito menos não podia abrir a boca para falar de um cara maravilhoso, que soube viver como poucos, e que até na hora da morte, teve classe, fidalguia e charme, pedindo para morrer no Copa.

Nenhum comentário: