quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Pelé ou Maradona?

Confesso que sempre preferi Maradona ao Pelé. Nunca pensei por um ser argentino e o outro brasileiro. Apenas por ter visto Maradona jogar. Pelé não vi. Como também não vi Garrincha. Quem viu, me garante que superava Pelé em espetáculo.

Pelé em campo foi um gênio que não vi jogar. Garrincha um ser de outro planeta que não vi jogar. Maradona um ser de outro planeta que vi jogar.

Fora de campo Pelé sempre se comportou com se sua majestade fosse garantida. Cometeu atos feios como homem. Como se fosse alguém acima do bem e do mal. Teve sua iniciação sexual -como ele mesmo disse- com uma "bicha". Depois pediu para esquecerem. Teve uma filha fora do casamento. E lutou arduamente tentando negar. Quando o DNA confirmou. Ele renegou sua filha, que morreu de desgosto e não recebeu nem um adeus do seu pai. Já seu filho, que chegou aos mil gols antes dele, (ok ele era goleiro), em uma entrevista a Revista Piauí, mostrou o pai ausente que Edinho teve. Fora os casos de contratos estranhos e até amigo do Collor ele foi.

Sobre Copas. O que conto é história, nada além da história. Pelé se negou em jogar a Copa de 1974, ora ele não queria sofrer o desgaste de uma eventual (ou certa) derrota. Pensou na sua imagem. Justo como os "reis" que pensam em si. E, mesmo em condições, se negou a jogar pelo Brasil. Nas Copas do Mundo que participou, ele foi um talento que despontou aos 17 anos em 58. E fez parte com louvor do título. E um gol antológico no País de Gales. Em 62, se contundiu na fase inicial. E Garrincha com Amarildo, garantiram o título. Coube a ele apenas agradecer este título. Coisa que nunca fez. Apenas colocou em seu "scout" de títulos um Campeonato Mundial que pouco ou nada jogou. Em 70, fez parte de um time que jogou como nunca nas finais de Copa. Era um timaço com craques como Tostão, Gerson,Rivelino. Esta Copa eu vi toda em tapes. Quando digo toda, toda mesmo. Os 90 minutos de muitos jogos. E na semi-final Pelé - irresponsavelmente deu uma cotovelada num uruguaio "botinudo". Poderia ter sido expulso e não ter jogado a final. Graças ao árbitro omisso, não foi. E esta Equipe Maravilhosa, do futebol romântico, cadenciado e lento trouxe a Taça Jules Rimet em definitivo para o Brasil.

Maradona errou. E muito. Ele nunca se "vendeu" como o "Mister Perfection". Teve filho fora do casamento. E assumiu a paternidade. Se envolveu com drogas. Foi ao inferno e voltou. E agora teve coragem de hipotecar sua história a seleção argentina. Arriscou ser comparado a um jogador medíocre como Dunga ao invés de Pelé. Maradona nunca deixou de admitir suas falhas. Como os homens de caráter fazem. Como as pessoas que tem a grandeza digna de admiração.

Em Copas, em 1978, Menotti não levou o "pibe". Teria sido seu primeiro título. Na Copa da Espanha o que ele deixou de imagem foi sua expulsão no jogo contra o Brasil. Em 1986 ele simplesmente ganhou uma Copa sozinho. Que me desculpem os demais companheiros. Foi a Copa mais decidida no talento individual de todas. Depois veio a Copa de 1990. A Copa mais medíocre de todas as Copas. Maradona, junto com um "pegador de penalties" levou um time que teria dificuldade dos torneios de "apertura ou clausura", ou até mesmo na Segundona do Brasileirão,  a final contra a Alemanha. E foi derrotado. Em 1994, Romário , e todos brasileiros, agradecemos o fato do baixinho argentino ter sido pego no anti-doping. Maradona, com aquela vontade, talento e dopping, teria dado trabalho ao time do Parreira.

Agora Don Diego classifica uma Argentina estranha para Copa do Mundo. Faz tempo que a Argentina deixou de ter aquele time que une a garra argentina ao talento. Parecem zumbis em campo. Falta aquele cara que bate do peito e fala "dá aqui que eu resolvo". Talento Riquelme, Aymar ou Messi mostraram que tem. Mas parece que falta uma coisa que o Maradona tem: bolas. O popular com desculpa da má palavra - "cojones".

Não torci pela Argentina, torci pelo Maradona. Que se arriscou, como em um tango. Apaixonadamente. Talvez até mesmo um pouco piegas, dramático, exagerado e fora do tom da modernidade politicamente correta, hipócritamente correta.

Pela coragem de se arriscar. Pela coragem de torcer. Pela coragem de ser fora de campo um sujeito autêntico Maradona merece nosso aplauso. Merece nosso perdão pelo descontrole de hoje na coletiva e os insultos aos jornalistas, aos coleguinhas periodistas. Um descontrole digno de alguém da arquibancada.

Maradona merece até que a gente esqueça que ele é argentino.


PS:
Se estivessemos numa cancha, para disputar nosso joguinho de final de ano, na hora do par ou ímpar podendo escolher entre o Pelé ou o D10s , eu escolheria o Maradona. Acredito que isto diz tudo. Mas é uma escolha minha. E nem sempre minhas escolhas nesta hora dizem respeito a querer ganhar o jogo, mas sim a me divertir com pessoas que eu gosto. Assim que se ganha o que vale ganhar.

Um comentário:

Anônimo disse...

uma palavra para definir?
polêmico. ahá, no Faustão...