sábado, 17 de julho de 2010

Manhã de sábado

Uma manhã de sábado em Copacabana. Sábado chuvoso. Saudade de ler crônicas de Rubem Braga. Paulo Mendes Campos. Fernando Sabino. Mas em especial, Rubem Braga. Não sei se a crônica é brasileira, como alguns amigos dizem. Mas sei que a mesma é uma delícia. Parece escrita com a oralidade da falta de compromisso. Com a seriedade de não se levar a sério. (Da mesma forma que este post não ambiciona nada, nem mesmo ser uma crônica.)
Algo bem a cara das novas mídias e das pessoas apressadas.
Como se a pressa no texto fosse medida em caracteres escritos, quando na verdade ela é representada pelos caracteres suprimidos, que gera muito mais tempo para quem escreve.
Mas hoje, ainda na manhã, diante de uma chuva insistente. Um passeio por Copacabana. Nem sei exatamente o que eu tinha ido fazer pela manhã. Eram coisas de vida terrena. Coisas que em geral as pessoas fogem de fazer aos sábados. Mas acordei energizado e decidido. Fiz tudo o que tinha que ser feito. Depois de realizado os prazeres e os gostos. E os deveres e as responsabilidades. Exatamente nesta ordem, afinal, hoje é sábado. Eu resolvi deixar olhos calmos para o tempo que não tem calma, nem clemência. Olhei Copacabana e suas ruas internas. A certeza que estamos diante de um bairro que nunca surpreende. Nunca surpreende pelo simples fato : a surpresa é a rotina de Copacabana. No caos urbano que ampliou com o passar dos anos. Um bairro que mais parece um Centro da cidade jogado dentro de uma praia e espremido pela montanha. Copacabana não surpreende, é verdade. Mas se não me surpreende, me remoça a cada dia.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Chuva no Rio



Sabe o carioca que gosta de chuva?
Pois é, sou eu.
Parece algo que contraria a essência carioca, mas não é. A cidade fica linda. E apesar do caos, em certos momentos parece que fica deserta. Como um Rio antigo. Até preto e branco o Rio fica. Fotos tiradas agora, as 15h50min pelo telefone. De dentro do carro.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Tá tudo errado, porra*

Não vou falar da quantidade de sandices e erros do caso Bruno. Não vou falar da sordidez dos detalhes cruéis do caso. Depois de tudo o que já foi falado e supostamente apurado. Choca a imbecilidade dos envolvidos tanto quanto a monstruosidade. E fica barato para a sociedade colocar a culpa em um caso isolado, mas não é.

Eliza, segundo informações, se prostituiu antes de fazer 14 anos. Filha de um pai que engravidou a Tia- gerando um irmão/primo e foi condenado por pedofilia por atos contra uma criança de 9 anos. Eliza viu na sua juventude e beleza a única forma possível de sair da condição que a vida havia lhe colocado. A vida sempre lhe fora violenta. Até mesmo quando prestou queixa e não lhe deram chance. Não por estar dando queixa contra alguém famoso ou rico, mas pelo simples fato de ter uma vida não tão regrada. A violência desta vez, veio em forma de preconceito. E a imprensa que tinha dado cobertura ao fato foi acusada de querer "desestabilizar o Flamengo". A nova moda é culpar a imprensa.

Do outro lado um jovem, com uma origem bem parecida com a de Eliza. Mas que havia conseguido, aparentemente, superar os obstáculos. Ganhava mais de 200 mil reais por mês, ídolo do principal time de futebol do Brasil, cavando uma transferência para o Milan na Italia. Sonhando em ser o goleiro e capitão da Seleção de 2014. Mas vale lembrar, embora parecesse, Bruno não havia superado os mesmos problemas que ele e Eliza tinham: a origem e a falta de família. Falta de estrutura, no sentido máximo desta palavra.

Sempre parece moralista a palavra família. Mas não é. Ela é a organização primária por onde aprendemos o certo e o errado. O primeiro contato com o "certo e errado".E Eliza teve que aprender que seu corpo era tudo o que ela tinha. Tal qual os lutadores dos primórdios do boxe. Apenas o corpo. E Bruno idem. A diferença era a remuneração.

Quando uma menina, filha de um pai condenado por pedofilia e um rapaz que a mãe tentou matar uma mulher se juntam, descobrimos uma mistura explosiva. De falta de valores, de uma formação mal forjada, dos dois lados. A diferença é que a menina era apenas uma aspirante a modelo e atriz e o rapaz era goleiro campeão brasileiro. O Capitão do time. O cara que levantou a Taça. O Flamengo e a Olympikus não podem se eximir de sua parcela. Ele assmiu publicamente que era "normal das umas porradas na mulher" e continuou com a braçadeira de capitão do Flamengo. (Onde, diga-se de passagem, o Presidente é uma mulher.) Era mais que um funcionário, era a imagem do Clube que dava o salvo conduto para Bruno agir da forma que agiu.

Estamos no século XXI, as mulheres lutaram para conseguir seu espaço. Debatemos clonagem, célula tronco, vamos a Lua, mas não podemos acabar com casos isolados de mulheres que vejam no seu corpo ou na chance de engravidar uma opção. Mas podemos evitar sim que este seja um pensamento vigente. Da mesma forma que a Sociedade tenta condenar Eliza, absolve e exalta as "Elizas" que foram bem sucedidas no "Golpe da Barriga". Algumas estão na TV e são celebridades. Também não vamos acabar com a violência contra a mulher ou contra o mais fraco apenas por decreto e de sopetão, mas podemos tirar este pensamento como aceitável ou tolerável na ordem do dia.

Seria muito mais confortável afirmar que é um caso isolado. Mas não é. As atrocidades são cometidas por uma sociedade que fomenta o surgimento de "Elizas" e os "Brunos". No caso em questão apenas juntaram todos os pontos. E quase tão violento quanto o show de horrores cometidos pelo Goleiro Monstro e seus amigos é a contemplação da sociedade pela falta de valores verdadeiros. Pode não ser tão emblemático quanto fatiar uma mulher, mas é tão cruel quanto.



* "Tá tudo errado, porra." É uma frase clássica do Paulo Cesar Pereio