Procurando um material para uma apresentação, encontrei este texto perdido, escrito em algum domingo do ano passado. Com o direito de ser dispersivo neste momento, como fala um pouco de Pais e Filhos, achei oportuno postar.
Cheguei em casa com as pontas dos dedos ardendo. Vontade de escrever. Noite de domingo em Copacabana. Camisas de futebol. Clima de fim de festa. Cães e seus donos. O rosto das pessoas no domingo é indecifrável. Carrega ressaca. Culpa. Indulto. Paz. Cansaço. Alegria. Esperança e Frustação. Tudo ao mesmo tempo. Como se o domingo fosse uma espécie de dia trinta e um de dezembro de algum ano imaginário.
Vi um pai. Se despedia dos filhos. Rosto simples. Arredio a olhares. Ao deixar os filhos na portaria, a dor sem disfarce da lágrima contida. Não eram olhos de poeta. Ou me vendo naquele pai. Era um fato jornalístico. O pai, com a camisa do Vasco. Seu filho idem. A menina, uma mochila do Vasco. Nem sei se o Vasco jogou hoje. A família estava trajada de gala cruz maltina. E aquele pai, provavelmente , carregava o orgulho de passar, ou impor, seu time de futebol aos filhos.
Chamou atenção o gestual do menino. Enquanto o pai saía, sem olhar para trás, disfarçando a lágrima, o filho ficava ali. Olhando para um lugar vago. Olhando além de onde o pai caminhava. Como quem olha o futuro. Ele olhava para o vazio. Olhos nada incisivos. Talvez disfarçando de si mesmo o que ele queria ver, mas sabia que assim não seria, ver o pai olhando para trás. Parecia que ele entendia aquela dor do pai. E não olhava ali por ele mesmo, mas olhava ali pelo seu pai. Ele parecia querer confortar o pai. E o maior conforto seria torcer para o pai não se virar chorando. Mas, se assim fizesse, ele estava ali para proteger seu protetor. Talvez ali eu tenha visto alguma coisa minha. A vontade de um dia, no tempo perdido, ter o olhar daquele menino. Um olhar terno. Vi que a razão daquela cena ser forte para mim não era pelo pai. Mas pelo filho. Como pai já havia realizado meu domingo e minhas certezas.
Senti vontade de um dia ter tido vontade de ter aquele olhar de carinho do menino. Não voltamos no tempo. Não precisamos carregar culpas. Nada de terapia. Nem mesmo escrever em forma de terapia. Apenas vontade de em algum momento ter tido aquela força demonstrada na fragilidade e na fraqueza.
O que falta? Nada, apenas cheguei com uma vontade imensa de escrever. Não queria falar. Não queria ser ouvido. Não queria nem ouvir música. No máximo um chocolate.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Post Musical de Sexta
Seguindo o post anterior, da vantagem de ser caçula/temporão, eis um disco que eu ouvia com uns 7 ou 8 anos. Graças aos discos dos meus irmãos. Lembro bem dos detalhes do LP. Não é saudosismo, é rock and roll.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Vantagens de ser caçula
Quando se tem irmãos mais velhos como eu tive, você acaba não tendo irmãos. Você tem Tios muito proximos. Quando se é o caçula temporão você aproveita esta vida de quase um filho único. Mesmo sem ser. E isto é bom. Inegavelmente "egoisticamente" bom.
Mas o filho temporão pode aproveitar algo mais do que ter a atenção de um filho único. Ele pode ter as referências de seus irmãos mais velhos. Pegar emprestado. O que você vai fazer com estas referências, aí cabe a você.
Tive as influências de minha geração, mas pude ter a influência da geração anterior a minha. Assim cresci ouvindo tudo que se ouviu nos anos 60/70 como se fosse também a minha geração. Musicalmente isto é bom. Amplia horizontes.
Dos desenhos animados então, poucas pessoas de minha geração conheceram os Thunderbirds. Mas eu até a espaçonave deles tive. Hoje tenho DVDs, que servem de referência estética e memória afetiva por um tempo que eu não deveria ter vivido, mas vivi.
Mas o filho temporão pode aproveitar algo mais do que ter a atenção de um filho único. Ele pode ter as referências de seus irmãos mais velhos. Pegar emprestado. O que você vai fazer com estas referências, aí cabe a você.
Tive as influências de minha geração, mas pude ter a influência da geração anterior a minha. Assim cresci ouvindo tudo que se ouviu nos anos 60/70 como se fosse também a minha geração. Musicalmente isto é bom. Amplia horizontes.
Dos desenhos animados então, poucas pessoas de minha geração conheceram os Thunderbirds. Mas eu até a espaçonave deles tive. Hoje tenho DVDs, que servem de referência estética e memória afetiva por um tempo que eu não deveria ter vivido, mas vivi.
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domingo, 1 de agosto de 2010
Nino Rota
Eu tenho meu panteão de gênios. Ele é muito pequeno. Nele eu coloco Nino Rota. Mais que trilha ou incidentais dos filmes de Fellini, ele desenhava a alma musical das películas deste também gênio. Depois de ver um pouco de Nine. Eu precisava. Fumei meu charuto. E me deliciei com um set list inteiro de Nino Rota. Delícia. Agora hora de dormir.
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