Ele não questionava o fato dos pais não deixarem ele conhecer os personagens da Disney. Como Mickey não despertava seu interesse, não se levantava contra isto. E os pais incentivavam que ele questionasse. E ele questionava praticamente tudo. Era uma criança "chato-adestrada" por pais que viam na contestação a única forma de existir.
Eis que um exemplar da Paris Match. Encontrado ao acaso. Falava das florestas de Bariloche, que para ele era San Carlos. As florestas daquela que ele achava sua terra. As árvores que ele via nas fotos onde ele mesmo aparecia. (Não se lembrava que estivera ou mesmo não se lembrava que ele existia. Ainda não. Mas efetivamente estava nas fotos). Aquele cenário, tão conhecido por ele, ao menos nas fotos, era a fonte de inspiração para o desenho animado "Bambi". Aquele do veadinho. Sem nenhuma agressão ao politicamente correto ou duplo sentido.
Mesmo com diversos desenhos tchecos, sem nenhuma legenda, que o pai disponibilizava no projetor de 16mm, sem audio, ele queria ver o Disney com o Bambi. Queria ver o que "inimigo" teria feito com um local que ele conhecia. Queria ver se ele contava mesmo mentiras. Ali ele conhecia. E não seria um desenhista do imperialismo yankee que conseguiria enganá-lo. Ele não era bobo. Já tinha 8 anos.
Viu Bambi. Seu primeiro contato com o Mundo Disney. Se emocionou com a cena da morte da mãe. Entendia bem aquilo de alguma forma. E o apartamento do 18º arrondissement de Paris, numa tarde fria de um fevereiro, ficou ainda mais gelado.
Até hoje a dúvida se era uma janela ou uma ferida aberta.