Hoje soube que morreu o Fidel, cachorro companheiro do meu amigo Diogo Brozoski.
Não. Eu não confundo amores que temos aos humanos com aos dos animais. São diferentes e não concorrentes. Quem não entende, é pura miopia.
Meus cães, Gorby e Fred me ensinaram a amar incondicionalmente sem esperar nada em troca. Onde, se o meio é a mensagem, a troca é o amor. Numa nova Telema de relação. Graças a eles pude me "ser pai". Cair na aventura de encarar o mundo adulto. Meu estágio. Meus amores. No Frajuto um amor único ao som de tango. Solidão. E noites em claro com Adios Nonino em BG e grilos falando numa noite úmida. Se nunca fui sozinho, por muito tempo foi por ele.
Então eu entendo a dor do Diogo com o Fidel. E quem não entende, que vá a merda.
Animais não suprem carências nossas com outros humanos. Animais suprem carências nossas com nós mesmos. Ainda mais nestes tempos que estamos tão conectados virtuais, tão próximos e tão distantes do abraço. Sensorial que sou ou somos, nos animais encontramos este carinho a ser dado, tal qual energia acumulada que precisamos dar saída.
Do Fidel uma história. Época de muito serviço num dos escritórios mais alto astrais que já tive na minha vida. Como se todas as almas libertárias em lá trabalhassem ao lado de humanos. Um clima de leve libertinagem a serviço do entretenimento. Neste escritório, Diogo foi num sábado. E levou Fidel. Fidel, que apesar de acusarem de flatulento, sempre penso que ele apenas levava a culpa, Fidel, se aliviou, fez um número 2, popular côcô, no chão do escritório. Diogo, talentoso e distraído, como na sua verdade, na sua essência, limpou prontamento o dejeto do animal. Colocou em um envelope para depois jogar no lixo. Mas, Diogo desligar um computador e uma cafeteira já é um esforço elogiável. Justo, o talento que ele tem desenhando o desprende sem culpa destas obrigações terrenas ou neuróticas. Passou o domingo. Veio a segunda. E o dejeto do Fidel estava num envelope em cima de uma mesa. Na mesa do financeiro. Não se falava outra coisa. Quem fizera aquilo. Uns alegavam que era "macumba". Um outro, mais desesperado, me para e ofegante começa a falar : "Temos um psicopata entre nós.Temos um psicopata entre nós. Eu vejo isto em filmes. Eles começam assim. Depois pode ter morte. É sério." O mais grave é que ele ofegante falava isto e acendia um cigarro como se estivéessemos diante de realmente um caso muito sério. Outro alegara que poderia ter sido alguma mulher, com vergonha pois estava tendo reforma no banheiro feminino que teria feito num balde. Mas a teoria que mais vencia era "feitiçaria" x "psicopata vingativo". A copeira chorava de nervoso. Preocupada mesmo. O escritório inteiro tenso com a psicopatia ou o feitiço. E com quem seria. Parecia uma prova de reality show.
O que ninguém sabia é que Fidel havia estado na agência no sábado e domingo com Diogo. Ele veio até mim e falou que iria contar a história. Me pegou na rua falando isto e rindo como um adolescente do seriado Malhação e ao mesmo tempo sem graça com a proporção que o ocorrido havia tomado. Eu parei, pensei e falei :"Faz isto não. A lenda tá muito mais divertida. Um dia a gente fala a verdade." Na sexta-feira daquela semana revelamos e parou a busca pelo psicopata ou feiticeiro.
Este foi Fidel. Não era um cão, era um Companheiro que eu vi nascer. Na verdade eu pedaço do Diogo que eu conheci desde os tempos de logo pós moleque. E na verdade erámos todos tão jovens.