Existem cidades que são "moráveis" e outras que são "para morar". E Berlim, mesmo sem eu nunca ter morado por aqui, julgo que se encontra no seletíssimo grupo de "para morar". Adoro retornar aqui.
Poder usar casaco de couro uma boa época do ano faz com que ela seja interessante, mas ainda assim não seria o suficiente, afinal em Anchorage AK, com todo carinho e respeito, também pode.
O que faz Berlim ser interessante vai desde a sua história, ainda nos anos 30, algo fascinante, a passagem do comunismo dividindo uma Cidade - algo inimaginável para quem não viveu os tempos de Guerra Fria. Eu tenho referências pessoais da infância que me remetem a esta Cidade. E começam na estante do meu pai com o livro "O Espião que veio do frio" os papos com meu avô e depois mais tarde com o filme de Win Wenders. A arte urbana e uma cidade que se respeita. Se moderniza. Mas mantém os seus "cantinhos como uma espécie de Lapa" onde floresce uma cultura que não aspira a pretensão de ser contra-cultura, apenas de se produzir algo criativo. Sem pretensões. E desta despretensão surge o novo. E isto me lembra demais o Rio. Sim, eu só consigo amar cidades quando eu encontro nelas algum ponto comum com o Rio de Janeiro. Não é etnocentrismo, nem egoísmo, é amor, é carioquismo mesmo.
Berlin tem ruas escuras a noite. Enquanto boa parte das capitais européias aumentaram a quantidade de luzes, Berlim propicia caminhadas deliciosas na madrugada fria, deserta com pouca luz. Algo confortante sem letreiros pulsantes , painéis publicitários excessivos, uma cidade iluminada como a luz fria , ou o excesso de luz que são expostas as batatas fritas antes de serem servidas no McDonalds. Por falar em McDonalds, sim, me incomoda um pouco ver o mesmo plantado na Alexanderplatz. Me remete ao delicioso "Good bye Lenin" um daqueles filmes que quem ainda não viu está em falta consigo mesmo.
E Berlin é tão interessante que contraria até aquela máxima vulgar e popularesca, "puta não sente frio". Aqui as meninas de difícil vida fácil, a maior parte com tipo físico do leste europeu, atléticas, não sucumbem ao frio exibindo seus corpos com roupas de ski. Nossas meninas em Copacabana, também atléticas, usam as roupas de ginástica, elas aqui, para segurar o menos dois graus de hoje, estão nas ruas usando roupas de ski.