Inicialmente as bancas de jornais eram uma espécie de campo santo para mim. Olhava as revistas. Os pacotes de figurinha. Aquilo para mim era lúdico. Pensava em ser jornaleiro apenas para ficar mais perto das revistas.
Algumas vezes pedia licença e ficava dentro da banca. Tomava conta de tudo sozinho. Eram momentos efêmeros. Me sentia um adulto dentro da banca de jornal da Rua Miguel Lemos. Fazia vendas. Lia os jornais. Conversava. Recebia dinheiro e dava o troco certinho. Tudo com muita responsabilidade e escondido dos meus pais. O meu pagamento era um ou dois pacotinhos de figurinha. Mas eu até pagaria por aqueles momentos. Hoje, sem saudosismo, mas saudade, eu pagaria por aquelas sensações.
Estar ali ao lado das Revistas, dos fascículos, dos jornais...Era como se eu estivesse no Céu. Não consigo narrar o que era para mim. Era uma satisfação, uma felicidade. Um sonho.
Nada escapava ao meu olhar infantil e atento. Queria memorizar tudo. Como aquele esforço para se lembrar do sonho bom na manhã seguinte.
Via as manchetes sangrentas dos jornais populares. Achava o máximo. Olhava com desejo para as revistas como Playboy, Ele e Ela. Mas era um olhar lúdico. Não era erotizado. Olhava para aquelas mulheres como quem olha para um catálogo de obras de arte. Olhava encantado e hipnotizado por aquelas mulheres que hoje, algumas delas, podem estar com netos na pracinha.
Não me fascinava as revistas do personagens da Disney. Isto não. Preferia a Cripta, com suas vampiras e desenhos em preto e branco.
Eu tinha menos de 12 anos. Ainda marcava minha vida por Copas do Mundo. Por isto posso ter esta precisão dos fatos no tempo. Na Revista Placar eu sabia a escalação de quase todos os principais times brasileiros. E acompanhava o futebol europeu antes do mesmo ser uma moda globalizada a UEFA. Com a Geográfica Universal, antes de ser "Nat Geo", que eu também levava para casa. O prazer de ter visitado pessoalmente quase todos os destinos que eu vi na infância e falei, um dia irei. E fui. Se não a todos, quase todos.
Também tinha outro campo santo, era a Musical São José, uma lojinha numa galeria na Rua Djalma Ulrich, que em meio a encordamentos de guitarra e partituras eu me deliciava, mas aí é outra história. Mais sonora e menos visual. Mas esta loja eu levava o violão de minha irmã para afinar. Eu era super prestativo. Ia lá até quando não me pediam.
Era uma Copacabana mais serena.
Agradeço muito ter vivido ali. Naquela Copacabana.
E nesta foto, olhando pro mar, eu vejo que nada mudou em Copacabana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário